25 de outubro de 2008
Quando palavras não dizem nada
Por fim, após gastar palavras em vão ele só soube dizer: Tenho opinião formada sobre você! E não disse mais palavra alguma, enquanto eu questionava o porquê de tudo aquilo e aguardava alguma informação, uma idéia qualquer que fosse desta opinião formada. Deitado no sofá, os olhos encheram-se de lágrimas e um filme passou na minha memória; lembrei as noites acordado, os dias de fisioterapia e todo o processo pelo qual passamos juntos, sendo pai e filho. Lembrei até de quando minha asma era quase crônica e eu não podia contar com ele o quanto ele conta comigo hoje. A verdade é que nada disso é um jogo de equilíbrios e não estamos ajustando contas ou saldando dívidas. É o processo da vida. Limpei as lágrimas discretamente de modo que ele não visse - já tenho chorado demais ultimamente - levantei do sofá e fui chorar na rua.
13 de outubro de 2008
7 de outubro de 2008
Há sombras
Houve um tempo em que fui fantasma na Suécia, entretanto estava bastante presente na vida das pessoas e assombrava outras, pois sendo fantasma era essa uma das funções também. Ouvi dizer que havia gente - muito distante - que tinha medo da minha sombra. Assombra! Diziam. Depois disso virei de carne e osso, figura materializada, medidas verdadeiras, cor, cheiro, cabelo, sorriso, som, todo presença. Quem não acreditava em assombração teve de mudar seus conceitos e rezar todos os dias ou perder definitivamente o medo de fantasma, ou melhor, do fantasma. Levei algum tempo sendo de carne e osso na existência dessas pessoas - quase um paralelo, um aparte de uma realidade. Um microcosmo que devia incomodar, porque elas sempre me pareciam que estavam a rezar pra eu desaparecer.
Desapareci. Isto feito, morri mais uma vez... Hoje sou novamente fantasma, mas desta vez não assusto e nem preocupo ninguém, tenho medo de mim mesmo pois não me enxergo no espelho da minha própria existência e ninguém mais consegue me ver.
Desapareci. Isto feito, morri mais uma vez... Hoje sou novamente fantasma, mas desta vez não assusto e nem preocupo ninguém, tenho medo de mim mesmo pois não me enxergo no espelho da minha própria existência e ninguém mais consegue me ver.
4 de outubro de 2008
A falta que ele me faz
Desci já prevendo que a tempestade estava pra chegar. Em breves cinco minutos, depois de ir ao banco, uma tromba d'água desabou no cinza da tarde de Sábado em Copacabana. Deu vontade de tomar banho de chuva ou até ignorá-la e voltar pra casa caminhando sob as gotas grossas que caíam, quase como modo poético de encarar a vida. Mas o formalismo de achar que o dinheiro ia molhar, fora o medo de uma gripe ou algum tipo de reação que me pusesse doente, me colocou aguardando a tempestade passar embaixo de uma marquise ordinária. Me senti ordinário, observando todos acuados como ratos molhados, ou quase molhados, com medo de água embaixo de marquises esperando a natureza ter piedade de nós que carregamos dinheiros e papéis nos bolsos. Seco, ridículo e solitário embaixo da marquise, observava que a água quase que dava pausa na vida das pessoas e enquanto isso do outro lado da calçada avistei o café do quarteirão e lembrei do Croissant de amêndoas com chocolate. Passadas as grossas gotas de água, só desejava as gotas grossas de chocolate no Croissant de amêndoas, o que colocava água na minha boca - e esta não advinha da chuva, mas sim do desejo químico por serotonina.
Atravessei a rua à passos calmos - não sou um rato com medo de me molhar, pensei. Entretanto pulei poças, detesto molhar meus calçados... Adentrei o café com olhos sedentos em direção ao balcão que poderia ser a minha salvação... Olhei a vitrina e meu olhar logo se transformou em olhos de decepção... Não tinha o bendito Croissant que ia me salvar deste dilúvio de emoções. Voltei pra casa inconsolável e tentei me consolar com pão com requeijão e um bocado de café, mas sabe como é... Uma vez provado o Croissant, é difícil achar bom pão de forma com requeijão: entrei em depressão. Se ele soubesse a falta que me faz...
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