29 de março de 2010

Depois daquele papo nosso

Choro pelo telefonema, pela música bonita, pelo poema, pelo filme belo, pelo sol poente, por uma criança dormindo na rua.

Choro só de lembrar, de coisa triste e boa, e choro também só de pensar no dia em que meus sonhos serão essa simplicidade de nós dois juntos, enfim, sob um mesmo teto. Não preciso de nomes pra isso, pode ser férias, pode ser visita, pode ser juntar, pode ser casar, pode ser o que for... Você do meu lado dá arrepios dos bons.

Penso que em minha vida tudo é subterfúgio pra ser feliz. Estudo pra melhorar de vida, ficar inteligente e ganhar melhor? O consciente diz que sim, mas o inconsciente me deixa nítido que é mero subtexto pra ser feliz. Todos são assim, mas eu assumo.

O diploma é pra atender as exigências do mercado, porque o que me faz orgulhoso de mim é mesmo saber que posso ser feliz só contigo ao meu lado, sem precisar me preocupar com carreira como foco principal de vida. Quem faz isso é suicida. Desequilibro a balança sim, minha meta principal é a felicidade. Pós-graduado em entendimento, mestrado em sensibilidade e doutorado em amor.

Todos os outros verbos, que não amar, são secundários.
E o bom amor é esse, que estimula o crescimento de maneira indireta.
Portanto, estudo porque é bom, porque me faz melhor, mais inteligente, decidido, forte, seguro... mas no fundo, o que quero mesmo é ter você como futuro.

Sólido e à prova de crises internacionais, o amor é.

18 de março de 2010

Turbulento

Ando seco de poesia,
como se a chuva dos dias
tivesse molhado demais meu sentimentos.

A saudade que tenho aqui dentro
não quer virar poema.

Quer correr as horas,
pegar o avião
e ser feliz em qualquer tempo.

6 de março de 2010

Foi um rio que passou em minha vida

Meu pai faleceu na véspera do carnaval. Amante eterno de música, deve ter pensado que embora a perda fosse de uma tristeza enorme pra gente, seria melhor deixar-nos perto dos dias aonde tudo pode ser. Aonde de dia é Maria, de noite é João. Findado o carnaval, parece que a morte do meu pai foi como o próprio carnaval: a gente fica sem saber se foi verdade ou mentira tudo o que foi vivido, experimentado.

Enquanto corpos rebolativos e felizes iam em êxtase sobre carros alegóricos, nossa alegoria era aquele carro horrível de cemitério, aonde por cima vai o corpo dentro de uma caixa horrorosa de madeira. Sei não, tivesse eu inventado o enterro, não seria essa coisa feia e tristíssima.

Sol a pino e colocaram o pai lá. Colocamos um-a-um as flores e esperamos até o fim os coveiros fecharem o jazigo com cimento. Tudo metáfora. Cimento fechando uma história, eu com 29 anos e órfão, esse sol carioca na cabeça e depois as anedotas (lembrei-me tanto de Fernando Pessoa) pré e pós-funeral.

Sei que no meio disso tudo, eu estava tranquilo. Não desesperei, não gritei, não me joguei no caixão... Emotivo que sou, me surpreendeu estar tão contido e tão conformado com o acontecido. Colocava ali à prova coisas nas quais acredito: reencarnação, karma, destino e principalmente a idéia de que amor não depende de presença física, de corpo, de tempo. Que se pode amar pra sempre alguém. E que um pai a gente não perde, nunca. Isto seria impossível visto que sou metade dele e estou aqui vivo, contando isto pra vocês.

Sei que o Carnaval se foi, passou, como tudo na vida. Aprendi que não se perde uma coisa, ela apenas entra numa transição de estado. Um dia gelo, outro água, outro vapor, sim, como aprendemos na escola: muda-se de estado físico. O resto é balela. É dramatizar o drama, perfumar a flor, poetizar o poema. Tudo desnecessário.

Tivesse eu inventado o enterro, colocaria músicas pois sei que assim estaria de algum lugar sorrindo e cantando meu pai e os outros nossos queridos que já o precederam.

Ô Abre alas que eu quero passar, ô abre alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar, eu sou da lira não posso negar...

4 de março de 2010

Ósto

Quando meu avô morreu, depois do enterro,
vim caminhando pelo cemitério com a vó a tiracolo e ela me disse:
O que é que eu vou fazer da minha vida?
53 anos não são 53 dias.
Quem vai me esperar no portão preocupado,
quando eu me atrasar no mercado?
Suas perguntas silenciaram-me.
Não houve poesia que me provesse alento ao que me dizia.
Tudo isso ainda ecoa em meus pensamentos
e hoje vejo que a pergunta se respondia, é pura filosofia:
53 anos não são 53 dias.