26 de janeiro de 2010

Mc Donalds

quando tudo acabou
suspendi a possibilidade da entrega
hoje só como comida caseira,
ingredientes escolhidos a dedo,
preparada com mãos de amor.

Nosso reencontro de corpos
hoje seria apenas um fast-foda
muita gordura, pouca saúde
e arrependimento porque teu pau
é bonito mas faz mal

não peça pelo número
pois no fim o sentimento é o que fica
quebra-se o fálico mito
não, não era amor de pica

22 de janeiro de 2010

Santa!

Fazia-se de santa, culta e fina.
Cabelos bem escovados, jeito manso de falar, andar esguio e calmo...
Mas quando abria a boca não tinha muito a acrescentar, apesar de falar português corretamente.

Fora educada em bons colégios, religiosos, e portanto carregava consigo a displicente malícia das mulheres que quando meninas enganaram freiras.
Sua serenidade oratória era entremeada de falsidades que adoramos, mas que nunca me enganou. Chamava os subalternos de fofinhoooo, fofinhaaaa... Assim mesmo, esticando as vogais de maneira irritante...

Tinha acessos de bulimia e jantava tomate com carne de soja por diversas noites. Tinha medo de engordar, medo de envelhecer, medo de deixar de ser bailarina; coisa que nunca fora, mas que o truque da aparência magra levava aos descuidados a crer. E vinha ela com seu robe fino sentar-se a mesa para fingir simpatia quando o que mais fazia era bisbilhotar os funcionários que jantavam.
Homens? Matou 3. Uma mulher Mach3. O primeiro ela tchan, o segundo ela tchum e o terceiro ela tchan tchan tchan tchan. E desde então levava sua vida pacata em Copacabana.
Até que um dia foi ficando doente. Já não comia, já não atinava pras coisas, já não tinha mais máscaras para segurar o peso da bailarina que sempre sonhou ser, mas que nunca apresentou descente par de deux. Que nunca fez um correto deboulê.
Foi secando, secando, secando até desaparecer e nos darem a notícia da morte.
Eu me lembro, tinha acabado de tomar um café e comer uma torta deliciosa quando recebi a informação pelo telefone e até hoje não sei se o telefonema era uma forma torta e indireta de uma tentativa de culpa por estarmos nos divertindo enquanto outros sofriam.

Depois diagnosticaram maléfica doença como causa mortis. Ficamos todos chocados ao saber que não morrera de bulimia coisa alguma. Morreu de fingir quem não era.

Ontem fiquei sabendo: ela chupava taxistas no cair da tarde.