29 de maio de 2008

Amazônia 2: o já conhecido discurso de Cristóvam Buarque

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.

Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como patrimônio cultural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria Ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimento nas fronteiras dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda Humanidade.

Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA têm defendido a idéias de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

Concordo com cada ponto e vírgula.

27 de maio de 2008

Amazônia, de novo.

De novo esse papo da Amazônia, de novo a polêmica, de novo os mesmos palavrões e ofensas contra o presidente - muitas destas pueris, bobas, fáceis, de gente sem miolos. Afinal, que coisa mais boba e idiota e infantil é chamar o nosso presidente de Analfabeto ou Sem-Dedo? É preconceito e falta do que dizer, ponto.

O brasileiro mediano, extrato da classe média preconceituosa, que precisa admitir uma nova realidade do país, que precisa trabalhar pra ter o que tem ou conquistar novas coisas, fica muito insatisfeito com a realidade de que temos sim agora um país muito melhor do que antes e que isso apesar de não ter mudado muito a sua vida, mudou a de muita gente pobre que hoje em dia pode comer.

O brasileiro mediano, extrato da classe média preconceituosa, tem ódio de um presidente que atinja bons níveis econômicos somados a uma melhora dos níveis sociais. Não estou dizendo aqui que o Lula mudou o Brasil e que agora vivemos na Escandinávia (socialmente e economicamente). Mas o país melhorou e MUITO.

E pronto, vem uma notícia sobre o interesse de uma ONG presidida por um Sueco comprar a Amazônia por 50 bi de dólares. E reinicia o estardalhaço em torno de tudo. O país não tem soberania, bradam uns. Precisamos de bombas nucleares, gritam outros.

É desespero e ufanismo sem fim, o que cega de enxergar a verdade. Cega da mesma forma quando vão falar mal do presidente, pois não admitem a realidade. Esse ufanismo, esse patriotismo que se exalta mediante comentários que venham de fora mostram, acima de tudo, o provincianismo e o medo que a classe média preconceituosa têm do novo. Não acho que a Amazônia deva ser vendida, concordo que é nossa, que é nosso dever proteger e etc... Mas também sei que estamos destruindo-a. Também é problema nosso, está em nosso território.

Mas não me exalto patrioticamente por isso. Quero dizer, acho que há coisas piores acontecendo neste mesmo solo aonde árvores são derrubadas. Todos os dias morre gente por conta da violência, uma legião de pessoas sem futuro, jovens, crianças, balas perdidas, escolas caindo aos pedaços, hospitais públicos que não funcionam - e tudo isso não é responsabilidade única federal, é dos estados e municípios, e ninguém se revolta com isso! Estão revoltados porque uma ONG européia deu preço à Amazônia, tá certo, temos razões para tal revolta. Mas acho que falta uma revolta imediata, real, com a realidade cruel e assassina das grandes metrópoles.

Me dói muito mais ver uma pessoa tombar com um tiro do que uma árvore caindo no meio do mato.

15 de maio de 2008

Acordo logo

Legal é achar giro,
que fixe é ser bacana.
Pois quando estou-me a vir,
não é nada pornográfico.

Salvo o acordo-ortográfico,
teríamos mais compreensão.
Estás a gozar comigo?
Brasileira resposta diria que não.

Entretanto, se calhar, até tinha piada.
Mas se eu não explico nada: não entende o português,
nem a minha brasileirada.

dionisíaco

os deuses do teatro me levam adiante
sopram as velas dos navios de palavras
sopram as velas das cenas que hão de vir
me colocam ansioso na cochia
me cutucam o sentimento
porque sabem que aqui dentro, bate um coração de ator

os deuses do teatro, ao contrário de outros, dormem
mas agora, revigorados da ressaca de vinho da festa de Dionísio
acenam pra mim do fundo da platéia, embora ninguém os veja
eu sei o que isso quer dizer e portanto sorrio como quem sabe o próximo passo
os deuses do teatro...