11 de outubro de 2010

Stabat Mater Dolorosa

Tem mais de 50 anos
mas comporta-se emocionalmente
como uma boba adolescente.

Não obstante os avisos,
de que de cima deste penhasco
a queda será mais dura,
ela segue, segura, com esta fome auto-destrutiva.

Falam os pais, os filhos e os amigos
Ela só dá ouvido ao seu próprio umbigo
E segue neste relacionamento que não se relaciona a nada,
é ilusão para passar o tempo, enganação danada...

Como pode uma mulher madura
não querer acordar do sonho
quando todos dizem ser pesadelo
isto que ela pensa que é amor
mas é desespero?

Fosse outra pessoa, talvez não ganhasse um poema
Mas como é minha mãe, eis o porquê do problema
O poeta quer abrir uma janela que aponta pro futuro!

Independente, bonita, amorosa, não fala mais nossa língua
segue obstinada em continuar na empreitada que crê ser sua função
Vive neste país aonde não se diz "não"
E cede pra tudo o que quiser este homem

Aos 50 anos, saudável, financeiramente bem e bonita,
virou empregadinha: lava, passa, cozinha.

Ela, mulher de casa própria,
passa noites na favela, não, não é balela...

Minha mãe está precisando de um homem que goste dela...
Alguém que a leve ao cinema, alguém que lhe faça mulher
mas encontrou uma "coisa" no meio do caminho,
chamou de amor o que era carência e segue cega e surda
seu caminho de des-independência.

Um comentário:

Alexandre Damasceno disse...

A vida eh uma peça que mostra sua dureza quando os papeis se invertem. Os pais passam a ser filhos, o conhecido errado vira o reconhecido certo. Definitivamente nossas mães merecem poesias, a despeito da nossa estranheza quando acertam no alvo os erros que deveriam ser nossos. O que podemos fazer eh tentar ter a mesma paciência que elas tiveram conosco (e isso não eh facil). E o restante da vida, tah legal (desculpe a falta de acentos e da interrogação. Estou apanhando do teclado do mac. Ainda não acostumei). Abs.