27 de julho de 2009

Rio Lisboa Barcelona

Faz parte ter medo de avião
Mas não a ponto de impedir viagens
É natural ter receios quanto aos amores-incógnitas que vem pela frente
Mas que isso não signifique ter medo de gente
É saudável se cuidar e prevenir doenças
Enquanto isso não for sinal de descrença na sua força e no seu organismo
Porque não somos o que pensamos, somos antes ação
Verbo se conjugando, vida na palma da mão
Faz parte querer alegria
Como se teve outrora
Mas agora é tudo novo
É tudo renascimento
É preciso coragem
Pra ir ver o mundo afora.

20 de julho de 2009

Amor e seu tempo


Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade

13 de julho de 2009

Proseando

O que escrever quando a vida me toma as palavras por ser tão surpreendente que mal consigo verbalizar? Qual a diferença entre amor, gozar, aventura, beijos, paixão?! Há em mim uma imensidão de sentidos que só por isso me colocam sem verbo-ação. Fico quieto, não esperando os dias passar, mas passando com os dias em natural comunhão. Uma prece que rezo sem religião. Até que voltem os argumentos do meu samba-canção.

4 de julho de 2009

385 dias depois

Eu que só pensava em nós
Quando me vi só
Sem planos
Aos prantos
Achei que tinha me tornado "nós" em excesso
E esquecido de ser eu

Eu que pensava que os meus planos
Eram também teus planos
Vejo sob outra perspectiva
Que criei muita expectativa
E fui você demais

Quando pensei ter sido plural
Justo no momento mais singular
Vejo que todo mundo passa por isso
Que esse sofrimento é preciso
Pra conjugar o verbo amar

E hoje, te amo sem precisar da tua presença,
E nem de fazer planos contigo
Pois posso me casar com qualquer pessoa
Ou com qualquer sonho ou caminho
Em que eu me sinta menos sozinho
Quando disserem: Adeus!