24 de abril de 2011

Ô Ósto!

Meu avô, que fazia piada de tudo, morreu num domingo de páscoa.
Amparado por duas crianças, foi sentando até o coração parar.
Infarto ful-mi-nan-te.
Tenho certeza que quis pregar peça nesse papo de ressureição.

15 de abril de 2011

Rimite

Eu ia escrever um poema
mas a rinite consumiu
minha rima
minha rimite.

Atchim!

7 de abril de 2011

Triste Realengo, triste realidade

Tão chocante quanto a atitude do criminoso Wellington, que na manhã desta quinta-feira assassinou brutalmente diversas crianças de um colégio de ensino fundamental em Realengo, é a forma como a mídia e a sociedade brasileira tratam o caso. O jornal da noite da TV Globo (Jornal Nacional), o de maior audiência do país, abre o noticiário com a repórter âncora ao vivo no local do crime, o bairro de Realengo. Subúrbio pobre da Zona Oeste, este bairro jamais obteve tanta atenção midiática como neste dia - porém hoje, é claro, pela audiência, vale a pena que a equipe do jornal se desloque para, in loco, tentar fazer com que sintamos cheiro de pólvora no ar. Eles sabem, o ibope depende do drama, afinal a casa é craque em produzir novelas (drama-turgia) e eles querem fazer da tragédia uma minissérie de um capítulo, de trinta minutos e por conta disso vale tudo.

A reportagem inicia em tom de polêmica, com reconstituição e apelo. Mães desesperadas gritam por seus filhos em cena desnecessária de tão consternante. Muda a cena. Um vídeo de um transeunte que circulava pelas redondezas entra como um dos principais e mais fiel registro do crime: crianças que saem correndo de dentro das escolas ensopadas em sangue enquanto ao fundo uma mãe grita por seu filho. O "cinegrafista amador", que eu vejo como um "masoquista profissional", não se comove com o acontecimento, o que ele quer é registrar o momento, não larga o aparelho celular, não indica nenhuma reação de possibilidade de socorrer as vítimas que saem sem rumo, com sangue. Cruel, ele persegue as crianças e as filma sangrando na calçada enquanto ao redor o mundo cai. O que será que pensava este cidadão neste exato momento? Certamente pensava que iria ganhar muito dinheiro pela veiculação das imagens,ou pensava que ia ser chamado de Big Brother da tragédia, não apagava sua câmera, enquanto crianças morriam ao seu redor. Medo.

Eu, morador desta cidade, que durante todo o dia já estava abalado com o acontecimento, sinto o estômago remoer. Quase não creio que este tipo de cena está sendo transmitida para todo Brasil sem o menor pudor. As crianças estão sendo alvejadas mais uma vez, desta vez para todo Brasil. Estão no centro do palco ensanguentadas enquanto o jornal narra a cena. O drama prossegue. A TV mostra agora cenas feitas por outra pessoa com outro celular - todo mundo tem um no bolso hoje em dia, o que nos torna masoquistas em potencial, voyeuristas enfermos! Desta vez podemos ver o assassino morto na escada, crianças baleadas sendo retiradas no colo pela população. Desespero sendo transmitido de maneira cinematográfica pela maior emissora do país, no jornal de maior audiência, sem pudor algum. O que busca a Rede Globo e o editor-chefe William Bonner com isto? Quer nos convencer que a tragédia foi mesmo trágica? Quer transformar a vida num grande reality-show? Quer que sejamos personagens ao vivo de suas novelas? Quer audiência a qualquer custo?

Wellington vira celebridade por um dia. Precisou levar 11 crianças consigo para que o notassem apenas UMA vez na vida. O que busca mesmo um jovem que se sente excluído, em uma sociedade altamente excludente, ao cometer tal atitude? Sabendo que cometendo este tipo de crime, com esta magnitude, ia mesmo ser noticiado para todo o sempre. Consegue o seu feito e multiplica seus ideais, porque a TV retransmite. E a sociedade não consegue enxergar nada. Comovida ainda, sob o efeito do acontecido, limpamos os olhos e choramos com as mães, buscamos um rótulo para Wellington. O governador diz: um animal, um psicopata. Reafirma, também ao vivo, a nossa falha enquanto sociedade. Neste momento, comovidos, queremos rótulos. Mas amanhã é sexta-feira e ninguém questionará as armas, ninguém lembrará da miséria do bairro de Realengo, da sua falta de perspectiva, ninguém saberá se as crianças desta escola estão realmente sendo educadas, ninguém atacará o mal pela raiz. Queremos soluções rápidas, registros online, ao vivo, agora, sem refletir. A sociedade aceita o darwinismo social e amanhã o ideal será ainda vencer, vencer e vencer. Competir, competir, competir. Sem afeto, sem amor, sem reflexão profunda. A TV mostrará mais drama, buscará imagens de funerais, de mães em desespero, o governador chamará mais uma vez o criminoso de animal e psicopata e nada disso mudará a sociedade enquanto ela não olhar pra si e perceber quem somos, aonde estamos e para onde queremos ir.

Foram duas as tragédias de que padecemos hoje. Uma todos notaram, a outra passa sem que muitos a percebam.