7 de junho de 2009

Da finitude

A queda do avião nos põe deveras alerta, porque comove-nos a tragédia. Mas o que na tragédia, além das lágrimas, nos põe alerta a cada detalhe revelado para o fatal desfecho de 228 pessoas ao mesmo tempo? Se pensarmos bem, se fizermos uma análise não apenas racional ou fria, mas uma análise realista, fica claro que é a fatalidade da vida.

A vida é fatal e ninguém se conforma com isso. A vida é urgente e a gente se concentra em pequenezas que nos distraem de nossa fragilidade e do nosso status de "durante". A gente não é, está. Pode parecer clareza espiritual - tenho lá minha fé - mas é, antes, clareza humana, racional, fria e também simples e acalmadora de perceber a finitude.

Calculamos erros, queremos respostas e caixas-pretas, queremos que o radar tenha o que dizer, que os computadores traduzam nossas dores, que tenha sobrado alguém pra contar a história, que as estatísticas diminuam nossos medos, que tenhamos um bom enredo e que jamais estejamos envolvidos em algo assim.

Todos desejos genuínos, tudo normal mas, não me entendam mal, essa é a graça da vida, de ser fatal. Qualquer coisa pode nos acontecer a qualquer momento: o coração parar, uma árvore cair em nossa cabeça, o ônibus envolver-se num acidente sem sobreviventes, o carro explodir, um novo vírus aparecer e nos devastar...

Assim como as coisas boas, as fatalidades-amor, fatalidades-maternidades, fatalidades-sacanagens, fatalidades fatais, que nos pegam de supetão do momento e nos levam a ver de dentro como as coisas são. Pode ser bom, poder ser ruim, pode ser péssimo.

Pode ser triste, pode ser bom, pode ser fatal como a única acepção que entendemos da palavra como sendo algo ruim...

Mas a vida é assim...
E sem ser fatal, a vida não vale nada.
É preciso compreender que um dia não vamos mais ser.

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